terça-feira, julho 12, 2005

ø …Conclusão (?)… (3/3)

A lingua escolhida para os textos / ilustração é predominantemente o latim, pois é a utilizada para a classificação taxonómica; acontece que todos os nomes estão trocados, não correspondem às plantas representadas.
No objecto criado a ideia de mapa é também reforçada literalmente pela inclusão de mapas indicativos dos locais visitados (reais ou imaginários) e pela inclusão de indices e referências a Herbários “famosos” como o de Leonhart Fuchs, de 1542, intitulado De historia stirpium commentarii insignes (ou, Comentários notáveis sobre a história das plantas) – este titulo é a frase introdutória do meu trabalho / objecto – obra que reunia xilogravuras e descrições em latim de cerca de 497 espécimens. Este Herbário é bastante representativo para a Botânica pois as suas ilustrações provêm da observação directa e não da cópia de xilogravuras muito antigas como na maioria dos herbários anteriores. No entanto o seu texto baseava-se sobretudo na obra de Dioscórides, que em 512 d. C., escreveu De Materia Medica.
A escolha da obra de Fuchs como elemento integrante do meu “Herbário Falso” justifica-se pois pelo carácter duplo que ela possui pois se por um lado procura a observação do real e logo uma justificação de ordem cientifica ela baseia-se em escritos muito antigos, desactualizados mesmo para a época (1542) e relacionados com a prática da Medicina e não com a Botânica (que se estabeleceria como ramo cientifico mais tarde) e que é usada como metáfora da tentativa de credibilização do tesouro / herbário.
O processo de criação do objecto partiu das imagens efectuadas no Jardim Botânico, para além da obra de Fuchs, e de outras fontes e estampas recolhidas na Biblioteca do Jardim. Essas imagens e textos foram tratadas digital e analógicamente, impressas em jacto de tinta num papel de “embrulho” com cerca de 20 anos que eu possuia (numa pequena colecção de papéis antigos que eu tenho vindo a acumular e que como agora verifiquei sempre achei que viria a ser útil), esse papel é muito semelhante ao papel utilizado na colecção que fotografei.
A utilização da técnica de “transfer” é também uma metáfora ao fantástico e imaginário, as imagens transferidas (liquens) propagam-se no papel de uma forma não calculada, nem controlada, tal como a natureza ou mais concretamente como os liquens e fungos.
Tentarei também evidenciar o aspecto mágico / valioso do objecto na exposição através da escolha do local; um nicho na parede de uma das salas do Corpus Christi e pela iluminação tentarei realçar a “aura” desse “tesouro”.
No futuro, e porque acho que este projecto (Jardim Botânico do Porto / Natureza inserida no espaço da cidade) possui um potêncial enorme de trabalho pretendo estreitar as relações entre o video / som / fotografia e a obra de Sophia Mello Breyner.
Com esta afirmação pretendo apenas evidenciar o sentimento de necessidade de continuação que o aproximar de uma etapa final (a exposição / apresentação do projecto) realçou, pois apesar do intenso trabalho e pesquisa efectuados nestes últimos meses acho que ainda existem muitas direcções a estudar e ensaiar.