terça-feira, julho 12, 2005

ø …Conclusão (?)… (2/3)

O espaço Herbário / Jardim foi a refêrencia base, aqui o espaço / lugar toma uma posição de relacionamento com a memória individual (a minha) e colectiva (a da infância de todos).
Segundo Jorge Leandro Rosa no seu texto “Os lugares da imagem poética”: “O lugar é o espaço onde se inscreve um habitar ambíguo, entre o vivido e o imaginário. É um espaço sempre internamente qualificado: … Em qualquer dos casos, o lugar abre-se quando uma topofilia, mesmo que secreta, o circunscreve. Este duplo traço fenomenológico - abertura e circunscrição - poderia levar-nos a confundir o lugar com o corpo. Mas, ao contrário deste, o lugar deixa-se tomar pela estranheza do mundo, sendo certo que a sua origem se situa no imaginário da matéria, imago mundi que não é redutível à espacialidade metafórica dos saberes.
Ao fazer-se estranho, o lugar transporta algo da intimidade e do calor da imagem interior para o mundo. …” (http://www.interact.com.pt/12/Interact12_home.html)
O objecto resultante um Herbário assumidamente falso comunga dessa relação com o lugar entre o vivido e imaginário, relação que tão facilmente é estabelecida no imaginário infantil. A criação de um objecto falso é um reflexo desse imaginário aonde as crianças criam os seus pequenos tesouros a partir de outros objectos ou a partir de imagens, recortes, desenhos, mapas. A escolha do Herbário como o objecto significante deve-se às minhas memórias desses “tesouros” e do encantamento que desde cedo a classificação taxonómica (embora não a entendesse de todo) em mim exerceu aquando da leitura das “20 000 léguas submarinas” de Júlio Verne (precisamente na mesma altura em que frequentava os espaços atrás descritos – jardim e quintal) e em que uma personagem descreve exaustivamente e segundo uma classificação os habitantes das profundezas; o descobrir de outros mundos fantásticos e da noção de que estavam sujeitos a uma catalogação e mapeamento humano que os organizava e dispunha ao meu olhar (as enciclopédias p. ex.) é aqui representado precisamente pelo sistema em que as plantas são estudadas e classificadas: o Herbário (do Lat. herbariu; s. m., colecção de plantas secas, relativas a determinado lugar, organizadas de acordo com as suas características, e colocadas em folhas de papel ou de cartolina, para exposição ou estudo.)
O trabalho resultante é essencialmente um trabalho de ilustração sob a forma de um livro – novamente em relação com o objecto inicial de estudo, um Guia Elementar sobre Liquens em forma de “exsiccata” (espécimes secos; consulta de espécimes publicados, compreendendo as etiquetas impressas usadas como o padrão da comparação) – e em que as relações entre as imagens e os textos mais ou menos simulados evidenciam o carácter enciclopédico do trabalho, o registo da imagem como mapa, efeito potenciado através da sua relação com o texto que toma a maior parte das vezes o papel de ilustração.